A Ilusão Arimânica

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A Ilusão Arimânica

Rudolf Steiner

Palestra proferida em Zurique, a 27 de Outubro de 1919


1) Ao falar, hoje em dia, a um grande público sobre as mais importantes questões de nossa época, faz uma grande diferença se o orador falar a partir de um conhecimento das forças mais profundas da evolução histórica-universal, ou seja, a partir de uma ciência de iniciação, ou se ele for destituído desse conhecimento. É relativamente fácil falar sobre questões modernas se a pessoa puder contar com dados de conhecimento exterior, considerados científicos, práticos ou semelhantes. É, todavia, extraordinariamente difícil falar sobre tais questões a partir do ponto de vista da ciência iniciâtica – pelo qual, de fato, tudo parte que temos que tratar em reuniões como a nossa de hoje. Porque a pessoa que fala a partir desse ponto de vista sobre problemas da época sabe que enfrenta não apenas as opiniões casuais, subjetivas daqueles a que se dirige. Sabe também que uma grande parte da humanidade já se encontra hoje sob o controle, de um lado ou outro, das forças Arimã, de natureza universal, as quais estão ficando cada vez mais fortes. Só poderei explicar o que quero dizer com isso, se lhes der uma espécie de visão geral de um período bastante longo da história humana.

2) De várias observações feitas aqui e que vocês também encontram em alguns dos meus ciclos de conferência,vocês sabem que devemos colocar o início de nossa era  moderna na metade do século XV. Sempre denominávamos esse período – cujo inicio, em verdade, nos encontramos – de quinta época pós-atlântica. Esta substituiu a época Greco-latina, a qual contamos desde a metade do século VII a.C. até a metade do século XV; e antes disso, temos a época egípicio-caldêa. Estou mencionando isso apenas para que vocês possam se lembrar onde, na evolução humana como num todo, temos de situar a época na qual sentimo-nos colocados como homem moderno.



3) Ora, vocês sabem que o mistério do Gólgota aconteceu no final do primeiro terço da época Greco-latina. Já caracterizamos, sob muitos aspectos diferentes, o que realmente aconteceu para a evolução humana devido ao mistério do Gólgota e, em verdade, para toda a evolução da Terra. Hoje vamos incluir nesta visão histórica ampla alguns detalhes concernentes a humanidade, ligados a esse mistério.

4) Para tal finalidade, vamos olhar retrospectivamente em épocas remotas, digamos, nas eras do inicio do terceiro milênio a.C. Damo-nos conta de quão pouca coisa é relatada pela tradição histórica exterior sobre tal evolução antiga da raça humana na Terra. Vocês saberão de muitas fontes antroposóficas que quanto mais retrocedemos na evolução da humanidade tanto mais diferente encontramos a constituição da alma humana, e encontramos também algo como uma antiga sabedoria original embasando toda a evolução da humanidade.
Sabemos, ainda, que certas tradições de uma antiga sabedoria da humanidade foram preservadas, em círculos fechados e sigilosos bem para dentro do século XIX. Foram preservadas em certo sentido, embora, na sua maioria, não muito fielmente, até os nossos tempos.

5) Se uma pessoa moderna chega a aprender algo dessa sabedoria original, fica pasmada da profundidade de realidade a que aponta. Todavia, no curso de estudos que fizemos durante muitos anos, ficou claro que tal ensinamento de sabedoria, amplamente difundido, de tempos antigos, deve sempre ser confrontado com a concepção da vida e do mundo que tinha o antigo povo hebreu, e que possuía um caráter totalmente diferente. Com certo direito, essa sabedoria original bem difundida é descrita como um elemento  pagão, e a esta se opõe o elemento hebreu, judaico. Da tradição e da literatura exteriores vocês sabem, como, então, o elemento cristão se desprendeu do elemento judaico.

6) Destes fatos exteriores, vocês já podem deduzir algo que lhes peço tomar em consideração, ou seja, o fato de ter sido essencial na evolução da humanidade o confronto do elemento judaico, do qual evoluiu o cristianismo, ao menos em parte. A sabedoria primordial pagã, em sua totalidade, não era destinada a exercer exclusiva influência sobre a evolução ulterior da humanidade. E agora deve-se levantar a pergunta: por que a antiga sabedoria pagã que em muitos aspectos é tão maravilhosa teve de experimentar, pelo judaísmo e cristianismo, uma nova forma, uma transformação? Tal questão levanta-se inevitavelmente.

7) Para a sabedoria iniciática, a resposta a essa pergunta é dada somente por um fato extremamente importante, ou seja, por um evento que se passou lá longe na Ásia, no início do terceiro milênio da era pré-cristã. Na retrospecção, a visão clarividente descobre que houve a encarnação de uma entidade supra-sensível em um ser humano, da mesma forma como, no mistério de Gólgota, a entidade supra-sensível do cristo havia se encarnado no homem Jesus de Nazaré. A encarnação que ocorrera no início do terceiro milênio a.C. e é extremamente difícil de acompanhar, até com a sabedoria iniciática, deu à humanidade um imenso brilho, tendo um efeito incisivo. O que deu à humanidade foi essencialmente a sabedoria primordial.

8) Encarando a coisa exteriormente podemos dizer que era uma sabedoria que penetrava profundamente na realidade: fria, baseada puramente em idéias, pouco permeada por sentimentos. A verdadeira natureza interior dessa sabedoria pode ser julgada somente ao remontar para aquela encarnação que aconteceu na Ásia no início do terceiro milênio pré-cristão. Revela-se à visão retrospectiva da clarividente que houve uma verdadeira encadernação humana do poder luciférico.

9) Essa encarnação de Lúcifer na humanidade, que de uma certa maneira, se passara foi a origem da antiga sabedoria tão largamente espalhada, que foi a base da terceira civilização pós-atlântica.

10) Houve ainda uma repercussão, até na época grega, desde amplo impulso cultural do homem asiático-luciférico em meio a humanidade: a sabedoria luciférica foi do maior benefício para o homem daquela época evolutiva – de certo modo brilhante, graduado de acordo com os diferentes povos e raças entre os quais se espalhava. Era plenamente reconhecível por toda Ásia, ainda na civilização egípcia, na civilização babilônica e até na cultura grega.

11) Tudo o que os homens daquele tempo eram capazes nas áreas de pensamento, poesia, ação, era, de certo modo, determinado pela entrada desse impulso luciférico na civilização humana.

12) Seria naturalmente, extremamente filisteu se quiséssemos dizer: era uma encarnação de Lúcifer, portanto devemos fugir dela! – Tal atitude poder-nos-ia fazer fugir de toda beleza e grandeza que proveio para a humanidade dessa corrente luciférica, porque, como já dissemos, também a beleza grega é algo que proveio dessa corrente evolutiva. Todo o pensar gnóstico existe na época do Mistério do Gólgota, uma sabedoria insistente que lançava luz profundamente nas realidades universais – todo esse conhecimento gnóstico seja falso: é apenas uma caracterização dizermos que é permeado por forças luciféricas.

13) Ora, muito mais de dois mil anos após essa encarnação luciférica, sobreveio o Mistério do Gólgota. Pode.se dizer que os homens, no meio de quem se espalhava o Mistério, ainda estavam plenamente imbuidos do que o impulso luciférico introduzira no seu pensar e sentir;
E agora entrou na evolução da humanidade civilizada um impulso completamente diferente, o impulso crístico. Muitas vezes já falamos do que esse impulso crístico significa no âmbito da humanidade civilizada. Só quero mencionar hoje que o impulso de Cristo foi acolhido pelos corações e mentes que acabo de caracterizar. Poderíamos dizer que reluziu no que de melhor fora dado aos homens por Lúcifer. E nos primeiros séculos cristãos os homens compreendiam o Cristo por meio do que haviam recebido de Lúcifer. - Tais coisas devem ser encaradas sem preconceito; se não jamais será possível compreender a forma peculiar pela qual o impulso de Cristo fora acolhido nos primeiros séculos de nossa era.

14) Quando o impulso luciférico começou a desvanecer cada vez mais, os homens também se tornaram crescentemente incapazes de acolher o impulso de Cristo na forma correta.
Considerem quanta coisa se tornou materialista no curso dos tempos modernos. Mas se perguntarmos o que em particular se tornou materialista, receberemos a resposta: uma grande parte da moderna Teologia cristã. Porque é simplesmente ao materialismo mais rigoroso que uma grande parte da moderna Teologia cristã se entrega, ao deixar de ver o Cristo no homem Jesus de Nazaré, e apenas ver o ser humano, o “despretensioso homem de Nazaré”, o homem que podemos chegar a compreender se apenas quisermos nos elevar a alguma compreensão superior.

Quanto mais o homem Jesus de Nazaré pudesse ser considerado como um ser humano comum, um que pertence às fileiras de outras personalidades notáveis, tanto mais contente era uma certa tendência materialista da moderna Teologia. Ela quer reconhecer apenas pouco, muito pouco do elemento supra-sensível do Mistério do Gólgota.

15)  Os impulsos luciféricos no sentir da humanidade declinaram paulatinamente na alma humana. Em seu lugar, aquilo que chamamos o impulso arimânico torna-se sempre mais forte nos tempos modernos, e ficará cada vez mais forte no futuro próximo e mais longínquo. O impulso arimânico origina-se de um Ser supra-sensível distinto da entidade de Cristo e também de Lúcifer. Sem dúvida, ele provém também de um ser supra-sensível - poderíamos dizer “sub-sensível”, mas isso não é o que importa aqui. A influência desse ser tornar-se-á particularmente poderosa na quinta época pós-atlântica. Se atentarmos para as condições confusas dos recentes anos, perceberemos que os homens foram levados a tais condições caóticas principalmente pelos poderes arimânicos.

16) Da mesma forma como houve uma encarnação de Lúcifer no início do terceiro milênio pré-cristão, como houve a encarnação de Cristo na época do Mistério do Gólgota, haverá uma encarnação ocidental da entidade Arimã, algum tempo após a nossa época atual, mais ou menos no terceiro milênio de nossa era. A fim de formar uma concepção correta da evolução histórica da humanidade durante 6000 anos, devemos compreender que em um dos pólos está a encarnação de Lúcifer, no centro a encarnação de Cristo, e no outro pólo a encarnação de Arimã. Lúcifer é a potência que excita no homem todas as forças fanáticas, falsamente místicas, tudo o que tende fisiologicamente a por o sangue em desordem e, assim, eleva o homem para cima e para fora de si. Arimã é a potência que torna o homem seco, prosaico, filisteu – que ossifica e o conduz à superstição do materialismo. A verdadeira natureza humana é justamente o esforço de manter o equilíbrio entre os poderes de Lúcifer e Arimã; o impulso de Cristo ajuda a humanidade de nossos tempos a estabelecer esse equilíbrio.
 
17) Assim, esses dois pólos - o luciférico e o arimânico existem constantemente no homem. Do ponto de vista histórico percebemos que o luciférico preponderava em certas correntes do desenvolvimento cultural da era pré-cristã e continuava nos primeiros séculos de nossa era adentro.
Por outro lado, a influência arimânica é ativa desde a metade do século XV, tornando-se cada vez mais forte, até que haja uma encarnação efetiva no âmbito da humanidade ocidental.

18) Ora, é característico para tais coisas que são preparadas de longa data. Os poderes arimânicos preparam a evolução da humanidade de tal modo que esta possa ser presa de Arimã, quando ele aparecer em forma humana na civilização ocidental - que então mal poderá ser chamada de civilização em nosso sentido -, tal qual outrora Lúcifer aparecia em forma humana na China, tal qual o Cristo aparecia em forma humana na Ásia Menor. E inútil entregarmo-nos hoje a ilusões sobre tais coisas. Arimã aparecerá em forma humana, e a única questão é como ele encontrará a humanidade preparada: os seus preparativos lhe terão assegurado que tenha toda a humanidade que hoje denominamos de civilizada como seus seguidores, ou a encontrará preparada a oferecer-lhe resistência?

Não adianta termos ilusões sobre tais coisas. As pessoas de nossos dias fogem da verdade, que não pode ser dada a elas em forma tão simples, pois a ridicularizariam e zombariam dela. Mesmo se a oferecermos por meio da “Trimembração do Organismo Social”, como estamos tentando atualmente, elas não querem aceitá-la tampouco, ao menos não a maioria delas. O fato da gente rejeitar tais coisas é justamente um dos meios que as potências arimânicas podem usar, e que dará a Arimã a maior possibilidade de ser seguido quando ele aparecer em forma humana na Terra. Tal pouco caso feito às verdades mais importantes é precisamente o que formará para Arimã a melhor ponte para o sucesso na sua encarnação. E nada nos ajudará a encontrar a posição correta com relação ao papel exercido por Arimã na evolução humana, a não ser um estudo despreconceituoso das forças pelas quais atua a influência de Arimã, como também um conhecimento das forças pelas quais a humanidade possa se armar para não ser tentada e seduzida pelas potências arimânicas. E por isso, vamos hoje lançar um olhar, ao menos desde alguns pontos de partida, sobre as questões que promoveriam o suporte a Arimã, e que são utilizadas, especialmente agora, pelas potências arimânicas, a partir dos mundos supra-sensíveis e através das mentes humanas, a fim de tornar o número de fiéis o maior possível.

19)  Um dos meios é o seguinte: fazer com que não seja conhecido o significado verdadeiro para o homem de certos tipos de pensamentos e conceitos que se tornaram predominantes em épocas recentes. Vocês sabem certamente quão grande é a diferença que existe entre a maneira como uma pessoa se sentia inserida em todo o cosmo, digamos, na era egípcia e, ainda, na época grega, e a maneira como se sente desde o início da era moderna, desde o término da Idade Média. Imaginem um antigo egípcio erudito. Ele sabia que o seu corpo era constituído não apenas pelos ingredientes que existem aqui na Terra, e são incorporados nos remos animal, vegetal e mineral. Sabia que as forças que via nas estrelas lá em cima faziam seu efeito sobre o seu ser como humano; sentia-se como membro de todo o cosmo. Sentia todo o cosmo não somente cheio de vida, senão também animado e imbuído de espírito; na sua consciência vivia algo dos seres espirituais do cosmo, da qualidade de alma do cosmo e sua vida. Tudo isso foi perdido no curso da história humana. Hoje, o homem levanta o olhar de sua Terra para o mundo estelar que, para ele, é repleto de estrelas fixas, sóis, planetas e cometas, etc. Por quais meios, porém, ele acompanha tudo o que olha para ele do espaço cósmico? Estuda-o pela matemática, e talvez ainda pela Mecânica. Aquilo que envolve a Terra é despojado de espírito, de alma, e até de vida. No fundo, é um grande mecanismo que só pode ser compreendido com a ajuda das leis matemáticas e mecânicas, com as quais o compreendemos magnificamente! Certamente, um estudioso da ciência espiritual é o indicado para apreciar os feitos de um Galileu, um Kepler e outros; o que, todavia penetra a compreensão e a consciência humanas pelos ensinamentos desses grandes espíritos da evolução da humanidade apenas mostra que o universo não é mais que um grande mecanismo.

20)  O que isso significa, somente é revelado àquele que for capaz de abarcar o homem em toda sua natureza. Esta muito bem para os astrônomos e astrofísicos apresentar o universo como um mecanismo, que pode ser compreendido e calculado mediante fórmulas matemáticas. É isso o que o homem acreditará nas horas entre o acordar de manhã até o adormecer à noite. Mas naquelas profundezas inconscientes que ele não alcança com sua consciência de vigília e que, nem por isso, deixam de pertencer à sua existência, e em que vive entre o adormecer e o acordar de manhã, algo bem diferente concernente o universo flui para sua alma! Vive na alma humana um conhecimento que, embora não estando presente para a consciência de vigília, vive na profundeza da alma e a molda - um conhecimento do espírito, da vida da alma, da vida do cosmo. E embora o homem, na sua consciência de vigília, não saiba nada do que ocorre em comunhão com o espírito, a alma e a vida do universo enquanto ele dorme - na sua alma as coisas existem, vivem nela. E muita coisa dos grandes dilemas do homem moderno é derivada da desarmonia entre o que a alma vivencia do universo nas horas entre o adormecer e o acordar, e o que a consciência de vigília quer hoje reconhecer como concepção do universo.
21)  E o que diz todo o espírito e significado da ciência espiritual antroposófica sobre tais coisas? Diz: o que as idéias de Galileu, Copérnico e outros trouxeram para a humanidade é grandioso e magnífico, porém, de modo algum é uma verdade absoluta; é um aspecto do universo, um lado visto desde um determinado ponto. E somente devido à arrogância do homem moderno que a gente diz: o sistema universal de Ptolomeu - criancice; é o que os homens tinham quando eram crianças. Temos feito “tantos avanços maravilhosos”, “até as estrelas”; e é isso o que avaliamos agora como absoluto! É tão pouco um absoluto quanto o sistema de Ptolomeu era absoluto; é um aspecto. A única visão correta - de acordo com a Ciência Espiritual – é reconhecermos que tudo o que é aceito por meio de mera matemática universal, da mera esquemática universal do tipo mecanicista não fornece ao homem a absoluta verdade, senão ilusões sobre o universo. As ilusões são necessárias, porque a humanidade passa por diversas formas de educação nos seus diferentes estágios de evolução. Para a educação moderna, são justamente tais ilusões de natureza matemática sobre o universo de que precisamos.
Devemos adquiri-las, mas devemos saber que são ilusões. E, sobretudo são ilusões, quando as introduzimos em nosso meio ambiente cotidiano, quando procuramos criar, em concordância com as teorias atômicas e moleculares, uma espécie de astronomia para as substâncias terrenas. Uma correta atitude a respeito do todo da ciência moderna enquanto raciocina por essas linhas, reconhecerá que tudo isso são ilusões.
22)  Ora, para que a sua encarnação tenha uma forma a mais frutífera possível, Arimã tem o maior interesse em que as pessoas se aperfeiçoem o máximo possível em toda forma de moderna ciência ilusória - o que, de fato, abarca toda a nossa ciência atual, mas sem saberem que é ilusão. Arimã tem o maior interesse possível em instruir os homens em Matemática, porém não em fazê-los saber que os conceitos matemático-mecanicistas são meras ilusões.
Ele tem o maior interesse em ensinar os homens em Química, Física, Biologia e outros, como são apresentados e admirados, hoje, nos seus resultados notáveis, e em fazê-los acreditar, ao mesmo tempo, que são verdades absolutas e não apenas pontos de vista subjetivos, fotografias a partir de um lado. Se fotografamos uma árvore de um lado, pode ser uma fotografia correta, mas não dá uma visão da árvore como um todo. Se a fotografarmos de quatro lados poderemos eventualmente, ganhar uma idéia dela.
Ocultar da humanidade que, na moderna ciência intelectual, racionalista, com seu apêndice de empirismo supersticioso, estamos lidando com uma grande ilusão, com uma fraude - não deixar reconhecer isso é do maior interesse de Arimã. Seria uma experiência triunfante para ele se conseguisse que a superstição científica que hoje apreende todos os círculos, e segundo a qual os homens até querem organizar a sua ciência social, fosse prevalecer o terceiro milênio adentro. Arimã experimentaria o maior sucesso se, então, pudesse entrar como um ser humano na civilização ocidental e encontrar ali a superstição científica.
  
23)  Mas lhes peço não tirar conclusões falsas do que acabei de dizer. Seria uma conclusão falsa evitar a ciência da atualidade. Seria a conclusão mais falsa que vocês pudessem tirar. Devemos conhecer a Ciência; devemos chegar a conhecer justamente tudo o que vem desse lado, mas em plena consciência de que nos é dado um aspecto ilusionário - um aspecto ilusionário necessário para a nossa educação como homens.
Não nos salvaguardamos de Arimã evitando a ciência moderna, senão em aprendendo a conhecer a sua verdadeira figura. Pois essa ciência tem de nos dar uma ilusão exterior do universo, e precisamos dessa ilusão. Não pensem que não precisamos dela.
E que precisamos preenchê-la, de um lado bem diverso o da Ciência Espiritual, de autêntica realidade; devemos elevar-nos do caráter ilusionário para a autêntica realidade. Estudando vários de meus ciclos de conferências a respeito do que estou dizendo hoje, vocês verificarão que, em toda parte, foi procurado aprofundarmo-nos na ciência de nossa época e, ao mesmo tempo, elevá-la à esfera em que pode ser vista no seu verdadeiro valor. Vocês tampouco desejarão que o arco-íris saia de vossa presença, porque o identificaram como uma ilusão de luz e cores! Não o compreenderão se não se derem conta de seu caráter ilusionário. É a mesma coisa com tudo que a moderna ciência nos dá para a nossa representação do universo. Dá- nos somente ilusões, e devemos reconhecer o seu caráter ilusionário. E justamente por educarmo-nos mediante essas ilusões que chegaremos à realidade do mundo.
  
24)  É isso um dos meios de que Arimã se serve para fazer com que a sua encarnação fique o mais eficaz possível: retendo os homens na sua superstição científica.
  
25)  O segundo meio que emprega é de atiçar todas as emoções que dividem os homens em pequenos grupos que se atacam mutuamente. Basta atentarem em todos os partidos conflitantes que hoje existem, e se não tiverem preconceitos descobrirão que a explanação para esse fenômeno não deve ser encontrado meramente na natureza humana. Se as pessoas, uma vez, quisessem explicar honestamente esta assim chamada guerra mundial pelas desarmonias humanas, verificariam que não a podem explicar pelo que encontram na humanidade física. Justamente neste caso evidencia-se nitidamente o efeito de poderes supra-sensíveis, poderes arimânicos!
26) Tais poderes arimânicos, de fato, trabalham em toda parte onde surgem desarmonias entre grupos de pessoas. Agora a questão é de sabermos em que se baseia tudo o que estamos considerando?
  
27) Partamos de um exemplo bem característico. O moderno proletariado teve o seu Karl Marx. Observem atentamente como as doutrinas de Karl Marx se espalharam entre o moderno proletariado, tendo a literatura marxista atingido imensuráveis proporções. Vocês descobrirão que todos os métodos da moderna ciência foram usados nesses livros, tudo estritamente comprovado, tão estritamente comprovado, que muita gente de que jamais podia ter sido esperado caíram vítimas do marxismo.
O que era o verdadeiro destino do marxismo? É verdade que de início o marxismo se espalhava entre o proletariado, e era firmemente rejeitado pela ciência universitária. Hoje (1919) já há um número de cientistas universitários que deram uma virada para reconhecer a lógica do marxismo. Eles não mais podem se subtrair dele, porque a sua literatura provara que suas conclusões estão em excelente concordância e que, do ponto de vista da moderna ciência, o marxismo pode ser provado bem nitidamente. Os círculos de classe média, infelizmente, não tiveram o seu Karl Marx, que lhes poderia ter provado o contrário; porque do mesmo modo como é possível provar o caráter ideológico do Direito, da Moralidade, etc, a teoria da mais-valia e a pesquisa histórica materialista do ponto de vista marxista, é também possível provar o seu exato contrário. Um Marx da classe média, da burguesia, seria perfeitamente capaz de provar o exato contrário pelos mesmos métodos estritos. E nem haveria fraude ou tapeação alguma envolvida nisso; a prova teria pleno êxito.
  
28) Donde vem isso? Resulta do fato do presente pensar humano, do presente intelecto ser localizado num plano de existência de onde não consegue descer às realidades. Por isso, alguma coisa pode ser provada bem conclusivamente, e também pode ser provado o seu oposto. E possível, hoje em dia, provar o espiritualismo por um lado, e o materialismo, pelo outro. E as pessoas podem entrar umas contra as outras a partir dos pontos de vista igualmente bons, porque o intelectualismo de nossos dias se encontra numa camada superior da realidade, e não desce para as profundezas da existência. E a mesma coisa com opiniões partidárias. Quem não consegue ver isso e simplesmente se deixa aceitar num determinado círculo partidário - quer por razão de sua educação ou hereditariedade, quer por circunstâncias de vida ou Estado -, acredita bem honestamente - ou assim pensa - na possibilidade de provar os dogmas do partido para o qual resvalou. E depois - ele luta contra alguém que resvalou para outro partido! E um é exatamente tão certo como o outro. Isso provoca caos e confusão sobre a humanidade, que continuarão aumentando, a não ser que os homens consigam reconhecê-lo. Arimã serve-se dessa confusão para preparar o triunfo de sua encarnação, empurrando com crescente força os homens para o que eles acharão difícil de reconhecer, ou seja, que, pelo mesmo raciocínio intelectual ou da moderna ciência é hoje possível provar algo e também provar o seu oposto. O importante para nós é reconhecer que tudo pode ser provado e, por esse motivo examinar as provas que hoje são forjadas pela ciência. É somente na ciência natural, na própria sabedoria natural que a realidade é evidenciada pelos fatos; em nenhum outro campo provas intelectuais podem ser consideradas válidas. A única maneira de escaparmos ao perigo que nos ameaça se sucumbirmos às tentações de Arimã e ao seu desejo de empurrar o homem cada vez mais profundo para essas coisas é de nos darmos conta - por meio da ciência espiritual orientada pela Antroposofia – da necessidade de buscar o conhecimento humano em planos mais profundos do que aqueles de que nasce a validade de nossas provas. Por isso, Arimã utiliza em nossa época, para criar confusões entre os homens, tudo o que resulta das velhas condições de hereditariedade, as quais o homem realmente superou na quinta época pós atlântica. As potências arimânicas usam tudo o que resulta de antigas circunstâncias hereditárias, a fim de colocar homem contra homem em grupos conflitantes. Tudo o que vem de velhas diferenças de família, raça, tribo, povos é usado por Arimã para criar confusão. “Liberdade para toda nação, mesmo a menor...“ eram palavras eufóricas e belas. Mas as potências hostis ao homem sempre usam belas palavras para trazer confusão e para alcançar as coisas que Arimã pretende alcançar para sua encarnação.

29) Se indagarmos hoje: quem é que levanta nações uma contra a outra? Quem levanta as questões que hoje guiam a humanidade? - a resposta é: a sedução de Arimã que se faz sentir na vida humana. E nesse campo, os homens se deixam iludir muito facilmente. Não querem consentir em descer para os planos inferiores, onde se encontram as realidades. Pois vocês vêem que Arimã prepara muito bem a sua meta; desde a Reforma e Renascença, o economista emergiu na moderna civilização como o tipo governante representativo. Isso é um autêntico fato histórico. Retrocedendo para épocas antigas, mesmo para aquela que caracterizei hoje como a luciférica - quem eram então os tipos dominantes? Iniciados os Faraós egípcios, os regentes babilônicos, os soberanos asiáticos - todos eles eram iniciados. Depois surgiu o tipo de sacerdote como regente, e ele era efetivamente o soberano até a Reforma e a Renascença. Desde esse tempo, o tipo tio economista era quem dominava. Regentes são, de fato, apenas os serventes do economista. Não imaginem, de maneira alguma, que os regentes dos tempos modernos sejam outra coisa senão os serventes desses economistas. E tudo o que surgiu no campo de lei e justiça -deveríamos estudá-lo cuidadosamente - é simplesmente uma conseqüência do que cogitaram os homens orientados economicamente. Somente no século XLX, o homem “econômico” começa a ser substituído pelo homem que pensa em termos bancários, e é nesse século que se cria, pela primeira vez, a organização de finanças, que encobre todas as outras relações. E que devemos ser capazes de reconhecer esses fenômenos, e de acompanhá-los empírica e praticamente.
  
30) Tudo o que eu disse na segunda palestra pública proferida aqui (“O Futuro Social”, seis palestras públicas, Editora Antroposófica, São Paulo palestra de 25.10.19) é profundamente verídico. Gostaríamos que fosse seguido em todos seus detalhes; perceber-se-ia então quão fundamentalmente verídicas são essas coisas. Mas justamente porque surgira o reinado do mero “símbolo dos bens sólidos” (quer dizer: dinheiro - citação da palestra pública) foi dado a Arimã mais um meio essencial para o logro da humanidade. Se os homens não se derem conta de que o Estado de direito e o organismo espiritual devam ser opostos à ordem econômica provocada pelos economistas e pelos banqueiros, então novamente, Arimã encontrará, devido a essa falta de discernimento, um importante instrumento para preparar a sua encarnação, isto é, o triunfo de sua encarnação que, sem dúvida, virá. Tais meios podem ser usados por Arimã para um certo tipo de homem. Mas existe também um outro tipo - de fato, os dois tipos são freqüentemente misturados em uma personalidade -, e este proporciona a Arimã, de um outro lado, um caminho fácil ao sucesso.
 
31)  Ora, é um fato que, na vida real erros completos não são tão nocivos como meias ou quartas verdades. Porque enganos completos são logo descobertos, enquanto meias ou quartas verdades iludem as pessoas. Vivem com elas; tais verdades parciais tornam-se parte da vida, causando as mais terríveis devastações.
  
32)  Existem hoje pessoas que não se dão conta da unilateralidade da concepção universal de Galileu / Copérnico, ou que ao menos não enxergam o seu caráter ilusório ou são demais despreocupadas para se meter nisso. Acabamos de demonstrar quão errada é tal atitude. Mas também existem hoje pessoas, grande número delas, que reconhecem uma certa meia verdade, uma meia verdade muito significativa, e não querem ouvir da apenas condicional justificação de tal meia verdade. Estranho como possa parecer a muita gente: é tão unilateral de chegar a conhecer o mundo pela ciência galileu-copernicaria, ou de um modo geral pela ciência universitária do tipo materialista, quanto é unilateral de conhecer o mundo apenas pelos Evangelhos e de renunciar a penetrar a verdadeira realidade por outra via que não os Evangelhos.
  
33)  O Evangelho foi dado aos que viviam nos primeiros séculos do Cristianismo, e acreditar que hoje o Evangelho possa dar o todo da Cristandade é simplesmente uma meia verdade.
Por isso, também é um meio engano que ofusca as pessoas, e assim providencia para Arimã os melhores meios de atingir a meta e o triunfo de sua encarnação.
  
34)  Quão numerosas são hoje as pessoas que pensam falar a partir de uma humildade cristã e, em verdade, falam a partir de uma terrível arrogância quando dizem: “ nós não precisamos de uma ciência espiritual! A simplicidade dos Evangelhos nos conduz ao que o homem precisa da Eternidade! “Manifesta-se, na maioria dos casos, uma espantosa arrogância nessa aparente modéstia, a qual pode muito bem ser usada por Arimã no sentido que indiquei. Pois, não se esqueçam do que eu expus no início desta palestra, isto é, como na época em que se deu o Evangelho os homens ainda estavam compenetrados, no seu pensar, sentir e enfoque geral, pelo impulso luciférico, e que podiam compreender o Evangelho por uma certa gnosis luciférica.
Mas a compreensão do Evangelho neste antigo sentido não é possível hoje. Não se pode obter uma verdadeira compreensão do Cristo em prevalecendo somente o Evangelho, mormente na forma em que fora transmitido. Em parte alguma existe hoje uma compreensão menos autêntica que nas várias persuasões religiosas.
  
35)  O Evangelho tem de ser aprofundado pela Ciência Espiritual, se quisermos obter uma real compreensão do Cristo. Para tal é interessante estudar os diferentes Evangelhos para chegar ao seu verdadeiro conteúdo. Aceitar o Evangelho como tal e como um grande número de pessoas o aceitam hoje em dia, e particularmente na forma como é ensinado, não é um caminho ao Cristo; é um caminho para longe do Cristo. Por isso as confissões estão se afastando cada vez mais de Cristo. A que espécie de concepção crística poderá chegar uma pessoa que quer aceitar o Evangelho e exclusivamente o Evangelho sem o aprofundamento fornecido pela Ciência Espiritual? Ao final das coisas, ele chega a um Cristo - mas é o extremo a que pode chegar apenas pelo Evangelho. Não é uma realidade do Cristo, porque hoje é só a Ciência Espiritual que pode conduzir a ela. Ao que o Evangelho conduz é uma alucinação de Cristo, se bem que correta, uma real imagem interior ou uma visão, e apenas uma visão. O Evangelho fornece hoje o caminho para chegar a uma visão do Cristo, mas não à realidade do Cristo. E a razão porque a moderna Teologia se tornou tão materialista. Gente que tratou o Evangelho apenas do ponto de vista teológico perguntou a si mesma: o quê fazer com o Evangelho? E o resultado de suas ponderações é de dizer: em nossa concepção, é o mesmo que obtemos ao estudar o caso de Paulo ante Damasco. E então esses teólogos que deveriam confirmar o Cristianismo, mas que em realidade o minam, dizem: Paulo era simplesmente doente, uma pessoa doente dos nervos e teve uma visão ante Damasco.
  
36) A questão é que, pelos Evangelhos, podemos chegar somente a alucinações, a visões, mas não a realidade e que devemos nos convencer que, pelo Evangelho só, não podemos chegar ao Cristo, mas a uma alucinação do Cristo. O verdadeiro Cristo deve ser buscado hoje por tudo o que pode ser obtido pelo conhecimento espiritual do mundo.
  
37) São essas pessoas que se fiam exclusivamente no Evangelho e rejeitam todo tipo de verdadeiro conhecimento espiritual as que formam a vanguarda de um rebanho para Arimã, quando a ele aparecer em forma humana na moderna civilização. De tais círculos, de tais membros de confissões e seitas que refutam o conhecimento concreto trazido pela aspiração espiritual, exércitos completos desenvolver-se-ão como partidários de Arimã. Tudo isso está começando a existir. Está presente e trabalha na humanidade atual; e se dirige a isso quem hoje fala a pessoas com o conhecimento da Ciência Espiritual, não importa se falar de questões sociais ou outras. Ele sabe onde encontrar os poderes hostis, que vivem, sobretudo no supra-sensível, e que os homens são suas pobres vítimas iludidas. Esta é a chamada à humanidade: “Libertem-se de todas as coisas que formam uma tão grande tentação de contribuir ao triunfo de Arimã!”.
  
38) Muitas pessoas já sentiram algo desse tipo. Mas ainda não há a coragem em toda parte de procurar se compreender com os impulsos históricos de Cristo, Lúcifer e Arimã, naquela maneira exaustiva que é necessária e como é enfatizada pela Antroposofia. Mesmo aqueles que têm uma idéia do que é necessário não querem avançar o suficiente. Vejam alguns exemplos onde surge a noção de que seja necessário permear a ciência secular materialista, com seu caráter arimânico, pelo impulso de Cristo, e que, por outro lado, seja necessário iluminar o Evangelho pela explanação da Ciência Espiritual. Vejam quantas pessoas realmente se esforçam a lançar uma luz, em uma ou outra direção, por meio do conhecimento espiritual científico! Mesmo assim, a humanidade só adquirirá a correta atitude acerca da encarnação terrena de Arimã, se enxergar até o fundo dessas coisas e tiver a coragem, a vontade e a energia de iluminar pelo Espírito tanto a ciência secular como o Evangelho. De outra maneira, o resultado permanecerá sempre superficial. Pensem, por exemplo, como o Cardeal Newman, afinal um homem culto e iluminado, que segue a moderna evolução religiosa, declarou publicamente, por ocasião de sua Investitura como Cardeal em Roma para que, a doutrina cristã católica fosse sobreviver seria necessário uma nova revelação. Nós, todavia, não precisamos de uma nova revelação; o tempo das revelações no sentido antigo passou. Temos mister de uma ciência nova, iluminada pelo Espírito. Mas os homens devem ter a coragem para tal ciência nova.

39)  Pensem em um fenômeno literário como “Lux Mundi”, inaugurado nos anos oitenta, começo dos anos noventa do século passado, por certos membros, teólogos, da Igreja Anglicana. Consistia de uma série de estudos totalmente imbuídos do esforço de construir uma ponte da ciência secular para os conteúdos do dogma.
Poder-se-ia chamá-lo de um estrebudiar para cá e para lá, e em parte alguma um aprender corajoso da ciência secular, nem uma iluminação dessa ciência pelo Espírito.
Não havia um exame despreconceituoso do Evangelho, com o conhecimento de que o Evangelho por si só não é hoje suficiente e que deve ser elucidado e iluminado. Para tal, a humanidade deve ter a coragem, em ambas as direções, de dizer: a ciência secular por si só conduz a ilusão, o Evangelho por si só conduz a alucinações. O caminho do meio entre ilusão e alucinação só pode ser encontrado ao abarcar a realidade pelo Espírito. E isso o ponto que importa.
 
40)  Tais coisas devem ser reconhecidas hoje em dia. A ciência puramente secular tornaria os homens inteiramente presos ao ilusionismo; efetivamente acabariam por cometer apenas doidices. Bastam as doidices que já estão sendo cometidas hoje; certamente, a Guerra Mundial foi uma grande loucura! Mesmo assim, muita gente inteiramente compenetrada pela ciência secular oficial estava nela envolvida. E se vocês se derem conta de que estranhos fenômenos psicológicos aparecem quando uma ou outra seita põe em evidência um dos quatro Evangelhos, compreenderão mais facilmente o que eu disse hoje sobre os Evangelhos. Vejam quão fortemente inclinada a toda sorte de alucinações é uma seita que só segue o Evangelho de João, ou uma outra que só segue o Evangelho de Lucas. Felizmente existem quatro Evangelhos que, exteriormente se contradizem, e este fato evitou até agora a grande calamidade que tal unilateralidade poderia causar. Temos diante de si quatro Evangelhos, as pessoas não enveredam demais por uma direção, uma vez que têm os outros ao lado. Um Evangelho é lido em voz alta em um domingo, e um outro, um outro domingo, e assim o poder ilusionário de um é contrabalançado pelo outro. Há uma grande sabedoria no fato de quatro Evangelhos terem sido dados ao mundo civilizado, impedindo assim que uma pessoa seja presa a uma corrente, como é o caso de muitos membros de seitas, quando são influenciados por um Evangelho isolado. Se for só um Evangelho fazendo efeito sobre eles, é especialmente claro como isso o conduzirá ultimamente a alucinações.

41)  De fato, é essencial hoje em dia renunciarmos a uma grande parte de nossa inclinações subjetivas, muita coisa a que estamos apegados e consideramos piedoso ou inteligente. Antes de tudo, a humanidade deve procurar universalidade e a coragem de olhar as coisas de todos os lados.
    
42)  Era isso que eu queria lhes dizer hoje, para que compreendam que o que estamos procurando realizar agora na humanidade tem fundamentos genuinamente mais profundos do que algum tipo de preconceito subjetivo. Podemos dizer efetivamente que isto é lido nos sinais dos tempos, e que deve ser efetivado.
    
 (Traduzido por Heinz Hilda - Revisado por Josiana Arippol novembro/93).

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